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Poderão ser as tartarugas imortais?

Poderão ser as tartarugas imortais?
Num trabalho publicado na revista Science, investigadores colocam em causa as teorias da inevitabilidade do envelhecimento.

Um estudo liderado pela investigadora Rita Silva, publicado hoje na prestigiada revista científica Science, revela que tartarugas em zoos são capazes de evitar efeitos associados ao envelhecimento.

Todos os organismos vivos envelhecem e morrem – não há forma de escapar à morte. A este processo, que leva ao enfraquecimento e perda de capacidades com o avançar da idade chamamos senescência – e, em teoria, admitimos que todos os organismos vivos senescem. Na maioria dos organismos, este processo é inevitável, mas em espécies que crescem durante toda a sua vida, como as tartarugas, acredita-se que tenham o potencial de investirem em reparação celular mesmo após a idade reprodutiva e, por isso, escapar aos efeitos negativos do passar dos anos.

Através deste estudo foi possível descobrir que as tartarugas, em particular em populações mantidas em condições controladas, são capazes de exibir senescência negligível ou mesmo negativa.

Os investigadores analisaram a informação demográfica (nascimentos e mortalidade) de populações de 52 espécies de tartarugas em zoos espalhados pelo mundo, abrangendo uma grande variedade de tamanhos, longevidade e estratégias evolutivas.

Os resultados mostraram que as tartarugas envelhecem, de facto, mais devagar: 75% apresentaram senescência extremamente baixa e 80% com valores abaixo dos humanos.

A comparação de populações que vivem em meios naturais com populações expostas a condições controladas, com acesso ilimitado a alimento e proteção contra predadores mostra também que a velocidade de envelhecimento é consistentemente maior nas primeiras. 

"A maior disponibilidade para alocar a energia disponível em longevidade do que em encontrar alimento ou escapar a predadores é apontado como possível explicação para a diferença” refere Rita Silva, primeira autora deste estudo.

A autora acrescenta ainda: "É importante salientar que, mesmo com taxas de senescência muito próximas de zero ou até negativas, estes indivíduos não são imortais e estão ainda sujeitos a causas de morte como doenças e predação. Este resultado indica apenas que o risco de mortalidade não aumenta à medida que os anos passam.”

Os resultados revelam ainda que, ao contrário do que acontece na espécie humana e na maioria dos mamíferos, tartarugas macho vivem, em média, mais tempo que as fêmeas. Quando o oposto acontece, ou seja, em espécies em que a esperança média de vida das fêmeas é superior à dos machos, estas são geralmente maiores que os machos – o que pode ser explicado pela sua capacidade de atrasarem a reprodução e, assim, ganharem alguma vantagem evolutiva.

"Este estudo vem desafiar teorias evolutivas de envelhecimento e mostrar que as tartarugas encontraram uma forma de desacelerar ou completamente escapar aos efeitos negativos de envelhecer. Para desvendar os segredos da longevidade precisamos ainda de mais estudos comparativos e em grupos filogenéticos historicamente menos estudados, como é o caso dos repteis” conclui Rita Silva.

Artigo original: 
Rita da Silva, Dalia A. Conde, Annette Baudisch, Fernando Colchero (2022). Slow and negligible senescence among testudines challenges evolutionary theories of senescence. Science 376, 6600, (1384-1385).

2022-06-23
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