QUAIS SERÃO AS PRIORIDADES NA INVESTIGAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE MEDITERRÂNICA?
Como identificar as prioridades de investigação para a conservação da biodiversidade num bioma tão extenso e complexo como o Mediterrânico? Ao que tudo indica, utilizar uma abordagem simples e unificada não será a melhor solução. Esta foi a conclusão do artigo agora publicado por uma equipa internacional, liderada pelo CIBIO-InBIO e composta por investigadores de 11 países.
O bioma Mediterrânico estende-se por cinco regiões do planeta que partilham características bastante semelhantes de um ponto de vista climático e inclui, para além dos diferentes países da bacia do Mediterrâneo, os Estados Unidos, o Chile, a Austrália e a África do Sul. Tais regiões são muito distintas relativamente ao contexto histórico, cultural, social e político e também ao tipo e intensidade das ameaças à biodiversidade.
Francisco Moreira, investigador do CIBIO-InBIO e autor líder do artigo, explica que “neste estudo, era importante tentar perceber de que maneira as diferenças regionais poderiam influenciar na definição das prioridades de investigação para a conservação da biodiversidade”. Para isso, os investigadores analisaram a informação recolhida de inquéritos feitos a representantes de diferentes sectores governamentais e da sociedade, nas cinco regiões do bioma Mediterrânico.
A informação obtida dos inquéritos reuniu um total de quase 1500 questões apontadas como as mais relevantes e cujas respostas teriam a maior probabilidade de contribuir para a conservação da diversidade biológica.
As questões prioritárias identificadas variaram consoante as diferentes regiões do bioma e também os diferentes sectores considerados, os quais envolveram desde o meio científico, até entidades governamentais, ONGs, empresas, associações e consultadorias da área ambiental e agroflorestal. Para os autores deste artigo existe a necessidade de mais investimentos na transferência de conhecimento entre o meio académico e a sociedade. Francisco Moreira explica que, “ao analisar os inquéritos observamos uma grande diferença entre as prioridades apontadas pelos diferentes sectores chave, nomeadamente as dos próprios cientistas. Por outro lado, para algumas das questões apontadas como prioritárias pelos outros sectores, já existem soluções identificadas por estudos científicos, contudo ainda desconhecidas fora do meio académico”.
O artigo, publicado no âmbito de um projecto coordeando por Francisco Moreira e Pedro Beja e apoiado pela Society for Conservation Biology (SCB) e a International Society of Mediterranean Ecologists (ISOMED), chama ainda atenção para a importância de levar em conta as diferenças políticas, sociais e de gestão pública na construção de estratégias de conservação a escala regional.
Artigo original: Moreira F, Allsopp N, Esler KJ, Wardell-Johnson G, Ancillotto L, Arianoutsou M, Clary J, Brotons L, Clavero M, Dimitrakopoulos PG, Fagoaga R, Fiedler P, Filipe AF, Frankenberg E, Holmgren M, Marquet PA, Martinez-Harms MJ, Martinoli A, Miller BP, Olsvig-Whittaker L, Pliscoff P, Rundel P, Russo D, Slingsby JÁ, Thompson J, Wardell-Johnson A, Beja P (2019) Priority questions for biodiversity conservation in the Mediterranean biome: heterogeneous perspectives across continents and stakeholders. Conservation Science and Practice, DOI: 10.1111/csp2.118
Imagens:
Imagens 1 e 2. Paisagens do bioma Mediterrânico representativas de ecossistemas com valor de conservação: montado e olival tradicional | Créditos de imagem: Francisco Moreira