Estudo revela a dieta e causas de extinção do lagarto-gigante de Cabo Verde

Num estudo publicado na revista PLoS ONE, uma equipa internacional de investigadores utiliza técnicas de ADN e microscopia para revelar a dieta e as causas de extinção do lagarto-gigante de Cabo Verde.
Investigadores do CIBIO-InBIO/BIOPOLIS (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, InBIO Laboratório Associado da Universidade do Porto), em associação com colaboradores do Museu Oceanográfico do Mónaco e de História Natural de Paris e da Universidade de Valência, publicaram hoje um estudo na revista PLoS ONE onde revelam as causas de extinção e a dieta do lagarto-gigante de Cabo Verde.
O estudo de espécimes de museu é frequentemente a única maneira de desvendar informações sobre espécies que se extinguiram recentemente. Estes exemplares podem revelar conhecimento sobre ameaças e características da espécie relacionadas com o desaparecimento da mesma e a desenhar medidas de conservação para as espécies existentes.
O lagarto-gigante de Cabo Verde (Chioninia coctei) extinguiu-se devido a uma combinação de fatores ambientais e antropogénicos, provavelmente relacionados com a sobre-exploração de recursos.
A utilização de métodos moleculares de sequenciação de alto rendimento, raramente explorados para estudar a ecologia de espécies já extintas, permitiu estudar os conteúdos do estômago e intestino de três espécimes de lagarto-gigante.
A identificação de parasitas do género Tachygonetria sugere que as plantas eram importantes recursos alimentares. "A nossa abordagem genética também identificou plantas e, adicionalmente, invertebrados, apoiando a hipótese de uma dieta generalista do lagarto, refere Raquel Vasconcelos, investigadora do BIOPOLIS/CIBIO e coordenadora do estudo.
Por outro lado, a ausência de vertebrados nos conteúdos digestivos pode indicar o declínio das aves marinhas nas ilhas Desertas de Cabo Verde, que pode ter contribuído para a debilitação do lagarto-gigante, já infligido pela perseguição e secas intensas.
"Este estudo representa um passo significativo para o conhecimento do papel nos ecossistemas desta enigmática espécie já extinta e enfatiza a necessidade de desenvolver planos de conservação holísticos para espécies insulares ameaçadas. Adicionalmente, ilustra o potencial de integração de métodos moleculares recentes com abordagens tradicionais para estudar espécimes de museus para ajudar a resolver quebra-cabeças ecológicos noutros ecossistemas” destaca ainda Raquel Vasconcelos.
Artigo original:
Pinho CJ, Roca V, Perera A, Sousa A, Bruni M, Miralles A, Vasconcelos R (2022) Digging in a 120 years-old lunch: What can we learn from collection specimens of extinct species? PLoS ONE 17(7): e0270032.
Imagens:
Imagem 1. Lagarto gigante de Cabo Verde (Chioninia coctei) | Créditos de imagem: Michel Dagnino/Museu Oceanográfico do Mónaco