Investigadores descobrem duas novas espécies ibéricas de vespas-cuco para a ciência e adicionam 10 espécies à fauna de Portugal
Num artigo publicado hoje na revista Biodiversity Data Journal, são descritas duas espécies de vespas-cuco novas para a ciência: Chrysis crossi sp. nov. registada no sul de Portugal (Algarve) e Hedychridium calcarium sp. nov. encontrada na Espanha oriental. Adicionalmente nove outras espécies de vespas-cuco são registadas pela primeira vez em Portugal.
O número total de espécies de vespas-cuco no mundo é de aproximadamente 2.800 e destas, cerca de 480 foram registradas na Europa. Em Portugal são conhecidas 130 espécies e quatro subespécies, números que estarão provavelmente ainda longe do total existente, considerando o muito maior número de espécies conhecido em Espanha.
Para além da descoberta das novas espécies, este trabalho, inserido na iniciativa IBI: InBIO Barcoding Initiative, permite adicionar 52 espécies, de 11 géneros diferentes à base de dados "Barcode of Life Data System (BOLD)”, contribui para o conhecimento dos códigos de barras de ADN de vespas-cuco (Hymenoptera, Chrysididae) e inclui ainda propostas de várias mudanças taxonómicas.
"Este trabalho representa o primeiro esforço na geração de códigos de barras de ADN para crisidídeos ibéricos, representando assim um passo importante na documentação da diversidade genética da fauna de vespas-cuco mediterrânicas” refere Sónia Ferreira, investigadora do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (BIOPOLIS-CIBIO) da Universidade do Porto e coautora do estudo.
A investigadora destaca ainda a importância de uma adequada cobertura das bases de dados mundiais de códigos de barras de ADN para o desenvolvimento de sistemas de monitorização da biodiversidade: "O sucesso dos objetivos de projetos internacionais como o Biodiversity Genomics Europe (BGE) que visa a implementação de monitorização dos ecossistemas de forma padronizada à escala internacional, reside na possibilidade de aliar métodos tradicionais de monitorização da biodiversidade com as mais recentes técnicas moleculares.”
Paolo Rosa, investigador do laboratório de Zoologia da Universidade de Mons, especialista neste grupo de insetos e primeiro autor da publicação destaca o papel de "sentinelas” que estes insetos desempenham: "O estudo das vespas-cuco é importante para entender o estado de saúde do meio ambiente, por estarem no topo da cadeia alimentar, são sensíveis a todas as alterações que ocorrem no ambiente e na diversidade de espécies solitárias de abelhas e vespas que parasitam. Populações abundantes de vespa-cuco indicam um meio ambiente bem preservado”.
Conhecer as Vespas-cuco
As vespas-cuco são insetos da ordem Hymenoptera, isto é, são aparentadas das abelhas, dos abelhões, das vespas-do-papel, e das formigas. Pertencem à família Chrysididae, cujo nome tem origem na palavra "chrysis” – ouro, que se refere aos tons metálicos e aspeto brilhante destes insetos.
São designadas de vespas-cuco porque têm um comportamento reprodutor semelhante aos cucos. As fêmeas colocam os ovos nos ninhos de outras espécies, neste caso de abelhas-solitárias ou vespas. Quando as larvas das vespas-cuco eclodem, alimentam-se dos ovos ou das jovens larvas dessas espécies. Apesar de serem parasitoides ou cleptoparasitas, a sua presença não representa um problema para a conservação das abelhas e outras vespas que têm o papel de polinizadores.
Apesar do seu reduzido tamanho, as vespas-cuco estão certamente entre os insetos mais bonitos do planeta. De cores vivas e tons metálicos, podem ser verdes, azuis, vermelhas ou rosa, ou, em algumas espécies de todas estas cores ao mesmo tempo. O seu aspeto é bastante característico e os adultos podem ser encontrados a se alimentar de néctar nas flores, no entanto a sua ecologia é bem mais complexa do que na maioria dos insetos.
Na Europa, a diversidade de vespas-cuco é maior na região do Mediterrâneo, poucas espécies são encontradas no Norte e nas Ilhas Britânicas. Estes insetos são mais comuns nos países do sul da Europa, uma vez que a maioria das espécies são heliófilas e termófilas, preferem habitats ensolarados e quentes. Por outro lado, é também nestes países que encontram um maior número de espécies de abelhas e vespas hospedeiras para completarem o seu ciclo de vida.
Muitas espécies de vespas-cuco são raras e algumas estão em risco de extinção na Europa. A destruição e degradação de habitat, a homogeneização da paisagem e a remoção de madeira morta, como a eliminação de antigas construções abandonadas em madeira pode limitar a sua diversidade.
Artigo original:
Rosa P, Wood T, Silva TLL, Veríssimo J, Mata VA, Michez D, Beja P, Ferreira S (2023) The InBIO Barcoding Initiative Database: contribution to the knowledge on DNA barcodes of cuckoo wasps, with the description of new species from the Iberian Peninsula (Hymenoptera, Chrysididae). Biodiversity Data Journal 11: e98743.
Imagens:
Imagem 1. Chrysis crossi Rosa, sp. n., exemplar fêmea selecionado para constituir o holótipo da espécie, recentemente encontrada no sul de Portugal (Algarve)| Créditos de imagem: Paolo Rosa
Imagem 2. Chrysis crossi Rosa, sp. n., à esquerda um exemplar de macho e à direita um exemplar de fêmea | Créditos de imagem: Maarten Jacobs
Imagem 3. Stilbum westermanni Dahlbom, 1845, nova espécie registada em Portugal | Créditos de imagem: Maarten Jacobs
Imagem 4. Hedychrum viridiaureum Tournier, 1877, uma das espécies cuja singularidade foi confirmada com recurso a comparação de códigos de barras de ADN | Créditos de imagem: Maarten Jacobs