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O ATAQUE DO ESCORPIÃO

O ATAQUE DO ESCORPIÃO

Num artigo publicado pela prestigiada revista científica Functional Ecology os investigadores do CIBIO-InBIO/UP, Pedro Coelho, Antigoni Kaliontzopoulou, Mykola Rasko e Arie van der Meijden, descreveram a trajectória do ferrão do escorpião durante o ataque, recorrendo a imagens de vídeo e mapas 3D, com o intuito de perceber como evoluíram as técnicas de defesa deste animal.

 

VÍDEOS 3D NO ESTUDO DOS ESCORPIÕES
Os escorpiões podem ser encontrados em todos os continentes, excepto na Antártida, e podem assumir diversas formas e tamanhos. Estas variações são observadas especialmente no tamanho e forma das suas “caudas” musculares, que na verdade não são verdadeiramente caudas, mas sim a continuação do abdómen do escorpião, bem como nos seus ferrões ou “telsons” dos aparelhos, que os facilmente transportáveis. Para além disso, possuem um sistema de energia solar avançado, que permite recolher dados de animais que habitam zonas com luz solar reduzida.


Para estudar a forma como os processos evolutivos influenciam estas variações, a equipa de investigadores envolvida neste estudo analisou sete espécies diferentes de escorpiões de África com variações significativas nas caudas, incluindo o Escorpião-Amarelo-da-Palestina (o mais tóxico do mundo), o Escorpião-Negro-Cuspidor (capaz de projectar veneno contra os seus atacantes) e o Escorpião-Imperador (o maior do mundo).
Com a finalidade de gravarem o ataque em 3D, os investigadores construíram um dispositivo experimental constituído por uma arena com quatro espelhos. Após posicionarem o escorpião neste dispositivo, filmaram o ataque de uma perspectiva superior com uma câmara capaz de captar 500 frames por segundo.
De acordo com Pedro Coelho, primeiro-autor deste estudo “colocar os escorpiões em posição defensiva é habitualmente fácil: basta retirá-los do seu terrário e colocá-los no palco de espelhos. Para que adoptem a posição de ataque, basta apenas tocar-lhes nas pinças com um pedaço de arame.

 

ESTRATÉGIAS DE ATAQUE
O vídeo revela muitas variações nos ataques das espécies filmadas. Por exemplo, o Escorpião-Amarelo-da-Palestina foi aquele para o qual se registou o ataque mais rápido, a 130cm/s, enquanto que o Escorpião-Negro-Cuspidor exibiu o ataque mais lento, a 66cm/s. Para além das diferenças na velocidade, foram também observadas variações na trajectória e forma de ataque destes animais: algumas espécies moveram as caudas com trajectórias em forma de “C”, enquanto que outras apresentaram movimentos em forma de “O”.
Descobrimos que estas diferenças nas trajectórias definidas pelas caudas parecem estar relacionadas com diferentes formas de ataque. O próximo passo será perceber se estas variações estão relacionadas com os diferentes agressores, dos quais os escorpiões se querem defender ou se algumas espécies utilizam mais as suas caudas do que as pinças nos processos de defesa”, explica Arie van der Meijden, o autor correspondente.
Os escorpiões são modelos ideais para estudar mecanismos de defesa, uma vez que utilizam picadas venenosas e ataques com pinças em cenários de sobrevivência contra agressores. O ferrão é utilizado contra morcegos, cobras, lagartos e outros predadores, assim como para obter alimento e ainda durante a reprodução.

 

PERCEBER A EVOLUÇÃO COM BASE NO ESTUDO DE MECANISMOS DE SOBREVIVÊNCIA
Um dos grandes objectivos da biologia evolutiva passar por perceber os processos que estão por trás da diversidade funcional e morfológica. Estruturas e comportamentos, tais como as estratégias de defesa dos escorpiões, que podem – literalmente - fazer a diferença entre a vida e a morte, serão aspectos essenciais para se atingir este objectivo, uma vez que são alvo da selecção natural.

 

Artigo original:
Coelho P, Kaliontzopoulou A, Rasko M, Meijden A (2017) A “striking” relationship: scorpion defensive behavior and its relation to morphology and performance. Functional Ecology. DOI: 10.1111/1365-2435.12855

 

Imagens:
Imagem 1. Espécies de escorpiões em estudo (sentido do relógio – canto superior esquerdo): Leiurus quinquestriatus, Androctonus australis, Androctonus amoreuxiPandinus imperator, Parabuthus transvaalicus, Hottentotta franzwerneri, Hottentotta gentili. | Créditos de Imagem: Arie van der Meijden
Imagem 2. Escorpião Leiurus quinquestriatus | Créditos de Imagem: Arie van der Meijden

 

Vídeo:
Ataque do escorpião Leiurus quinquestriatus. https://youtu.be/AzaXI9fwIgw | Créditos: Arie van der Meijden

 

2017-04-04
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